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11/23/2016

Quando tudo faz sentido algo está errado.

 Hoje enquanto caminhava em um cemitério aqui na minha cidade acabei pensando seriamente sobre uma coisa: o que realmente significa o conceito de família? Após uma breve pesquisa vários resultados podem ser encontrados, porém meus questionamentos não tinham uma finalidade de conclusão, mas sim de contemplação da palavra, eu estava pensando pura e exclusivamente pelo prazer de pensar. SE É O BIXO PENSANTE MESMO NÉ DOIDO?

Veja bem, existem vários moldes de família, alguns aceitos pela maioria, outros nem tanto, alguns mais abstratos, porém é um fato que quando nos utilizamos de tal palavra ela vem carregada de um sentimento muito forte e bem estabelecido por nós mesmos, no caso o amor, ou algum tipo de conexão forte. seja criminosa ou não.

 Independente de envergaduras morais ou sociais, uma família é uma família e ponto, não importa o que você acredita ser ou não uma, ao ser usada tal expressão uma estrutura social muito séria está sendo citada,  isso é muito interessante por si só, afinal cada um tem seus próprios moldes de amor, crenças, verdades, relevâncias.

E o post hoje é justamente sobre pessoas que se amam, no caso minha mãe, eu, meu tio que não é meu tio e uma liquidação BOLADONA na pernambucanas.





 Minha mãe me acordava de forma delicada, muito diferente do normal, ficou óbvio que ela queria alguma coisa com tal abordagem.

- Filho acorda, temos que ir, aqui sua roupa - ela disse com algumas peças de roupa na mão - vamos rapidinho se não ficamos muito atrás na fila.

 Como na época eu era apenas um garoto inocente, sem celular na minha época era assim e sem muitas expectativas para minhas madrugadas, eu estava perdido, não sabia que horas eram, nem para onde iriamos, menos ainda o motivo de tal deslocamento durante a madrugada, mediante a situação em que me encontrava quis saber apenas duas coisas para poder sair da cama mais tranquilo:

 - Mãe vamos comer alguma coisa depois?

 - Sim.

 - posso dormir no carro até chegar?

 - Sim.

 Fui até o carro ainda dormindo, com aquele caminhar de quem ainda não desistiu de sonhar novamente, olhos semi abertos, me deitei no banco de trás e logo apaguei.

 Me acordaram de uma forma menos delicada dessa vez, estávamos no estacionamento de um shopping, foi nesse ponto que compreendi aonde tinha me metido, devia ter ficado em casa.

 Para um melhor entendimento da narrativa que estamos construindo juntos, vamos esclarecer uma coisa, o pobre é uma coisa fascinante, espero que você não esteja lendo isso com um teor pejorativo, nem se sinta ofendido com esse parágrafo, não é esse o ponto aqui, o ponto é que nada deixa um pobre mais agitado, feliz, sorridente, eufórico, entusiasmado,  tenho infinitos adjetivos na manga desculpe  do que uma liquidação, para uma parcela da população momentos como esse são desculpas para agir de forma pouco coerente com sua realidade, ou mesmo com suas despesas mensais, ou seja é como uma licença poética capitalista para despirocar, esse era um desses momentos para minha Mãe e meu tio que não é meu tio.

 Enquanto me dirigia a uma fila inconcebível aos meus olhos juvenis,  reparei que algo estava diferente no caminho, todas as outras lojas do shopping estavam fechadas. Busquei informações com meus companheiros de aventuras e descobri algo inacreditável. sério eu fiquei chocado.

 Uma vez ao ano a pernambucanas abre suas portas de madrugada, faz uma liquidação em proporções inimagináveis em busca de uma queima de estoque insana e volta a sua programação normal como se nada tivesse acontecido.

 Quando nos aproximamos da fila minha mãe explicou o motivo da minha presença naquele lugar, e quais seriam minhas funções naquela missão, eu seria o guardião das mercadorias ainda não adquiridas e impediria qualquer tentativa de furto, sim isso mesmo, furto. Afinal se você ainda não passou pelo caixa, aquilo não lhe pertence e pode ser levado de você. NA MALDADE

 Eu era o primo mais favorecido e focado do olheiro de carro.

 Entramos e visualizei o caos, mesmo parecendo que só eu o via da tal forma; Para o resto aquilo era como um paraíso, claro que isso inclui o tio que não é meu tio e minha mãe, que após definir onde eu ficaria foram as compras.

 Enquanto ambos separavam mercadorias e colocavam aos meus cuidados, foquei apenas em observar o quanto as pessoas podem ficar agressivas quando colocadas em situação de desejo desenfreado somados a pressão psicológica, vi gente discutindo, gente tropeçando e caindo, vi lágrimas, dancinhas de comemoração, ali tudo era possível e claramente eu não sairia ileso dessa aventura.

 Não demorou muito para o número de tralhas ao meu redor ser grande o suficiente para me sentar nelas, sério era muita merda ao meu redor, claro que todas aos meus cuidados, fato muito importante e explícito que a moça vindo em minha direção parecia não se importar muito, caminhava a passos despreocupados, como quem sabia exatamente o que fazer e como fazer, ela não contava com minha vigilância. babaca

 Em meio a tantas opções, indo de jogo de talheres a ventiladores, o que ela almejava em sua investida era um rádio vermelho da Philco, intenção essa que ficou muito clara no desenrolar da cena.

 A mulher, que não vou descrever aqui devido a falta de lembranças concretas sobre a mesma, simplesmente se agachou, pegou o rádio que estava na borda da ilha de tralhas e já se retirava do local do crime como se nada tivesse ocorrido, me senti insultado momentaneamente, não sou cego moça, por favor né?

 Fui obrigado a abordar a ladra da pernambucanas.

- Moça esse rádio é meu, você poderia colocar ele onde estava?

 Ela se virou com uma expressão neutra, decidida e disse:

- Mas mocinho, ele estava no chão, como poderia ser seu? - nem piscou para dizer um absurdo desses.

 Na hora pensei em desistir e deixar ela levar o rádio, seria mais simples, mais rápido, porém não é por ser mais simples e rápido que devemos apelar para esse tipo de abordagem, aquilo era a minha missão, proteger a tralha, o rádio era parte da tralha, eu não podia permitir que ele fosse.

- Moça você sabe que esse rádio me pertence, ele estava junto de todas as outras coisas que estão ao meu redor - disse com os braços estendidos, girando - coloca ele de volta, me ajuda vai.

- Eu não tenho radio em casa moço, eu preciso ouvir meus louvor. - disse a ladra tentando me convencer de que os fins justificavam os meios.

 - É serio isso moça?

 - Desculpa mocinho.

 Foram as ultimas palavras dela antes de se virar novamente e tentar se camuflar no caos que estava aquele lugar, eu não iria tomar o rádio dela a força, isso nem passou pela minha cabeça, então pensei em uma solução que me parecia ser a mais cabível ao momento, vasculhei a loja com olhos de águia em busca de algum ser humano de estatura privilegiada trajando um terno, encontrei e logo gritei com toda a força de meu pulmão.

 - SEGURANÇA VEM CÁ!

 Eu senti o arrepio da mulher na minha própria espinha, ela parou para olhar para trás e viu uma criança sorrindo, nossos olhares se encontraram, pude sentir um desespero vindo dela, meus olhos banhados em determinação, tentou se virar e dar mais alguns passos em direção da liberdade mas foi impedida por um segurança enorme, que escoltou ela para perto de mim já perguntando:

- O que está acontecendo aqui? - Disse o segurança sem nenhuma sutileza.

- Ela estava tentando roubar meu rádio. - disse com a melhor cara de criança desamparada que eu consegui fazer.

- Mentira senhor segurança, eu só peguei o que estava no chão, não existem provas contra mim.

 Então eu encontrei mais alguém que pensava como eu, que enxergava naquela noite o caos, a falta de paz, de princípios, que de uma forma muito sincera só queria ver aquele espetáculo capitalista acabar, aquele segurança já estava de saco cheio muito antes de abordar a gente, mediante a tudo isso ele disse:

- Senhora você pode devolver o rádio para o garoto, ou eu te coloco pra fora da loja.

 Se nem eu esperava aquela frase, imagina a mulher que ficou parada olhando para o segurança?

 Claramente ele se mantinha imóvel e imponente aos olhos da ladra, a fitava com um olhar fulminante, enquanto isso a mulher tremia.

 Ficamos mais alguns segundos em silêncio, até a ladra se abaixar e deixar o rádio exatamente onde estava e caminhar derrotada para fora do campo de visão do segurança.

 Quando ela tinha se afastado o suficiente ele só me disse uma coisa antes retornar para seu posto:

- Fica esperto garoto, ela vai voltar.

- obrigado.

 Depois de mais alguns minutos minha mãe voltou dizendo que iriamos embora, só faltava passar no caixa, chegando lá eu vejo no caixa ao lado, uma mulher me olhando com todo o ódio do mundo, um olhar de alguém que deseja sua morte com tanta vontade que você chega a arrepiar sua nuca, mandei um beijo pra ela enquanto ela ainda me olhava e fui embora, com uma sensação de missão finalizada.
  

 É isso, esse post chegou a sua conclusão, levando todo esse texto em consideração eu deixo um recado a você que se deu ao trabalho de ler até aqui, valorize cada família que você tem ao seu lado, seja ela criada e mantida por você ou não, você gostando dela intensamente ou não, elas se aproveitando de você, tanto faz. Valorize isso, você não sabe quando algo vai partir sem te avisar, cada momento conta, pense sobre.

Até uma próxima.

ass: M.O.P.


ps: Sim a imagem do macaco ficou um lixo
ps2: A pernambucanas foi fundada por uma pessoa que veio do Pernambuco?
ps3: O nome do tio que não é meu tio é Noir, caso alguém realmente queria saber o nome de todos os personagens envolvidos na trama.

Um comentário:

  1. Meu jesus, nego.

    Esse texto tá incrivelmente supimpa, só falta aprender algumas leis do português (Que são um saco de aprender, isso é entendível) que fica digno de ser publicado em algum canto.

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