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5/03/2018

Calado você é um poeta

 Nossa memória funciona de forma muito interessante, não que eu seja um grande entendedor, porém aonde estamos, no caso a internet, não é necessário ser uma grande entendedor em nada para produzir um breve parágrafo sobre qualquer coisa. Ou seja, diretamente falando, pautado na minha vasta ignorância posso escrever sobre qualquer coisa, igualzinho a você, até mesmo sobre o funcionamento de nossas memórias, mesmo esse não sendo o tema da postagem a seguir.

 Hoje eu só gostaria de voltar as origens desse blog, ou algo parecido com isso ao divagar sobre um ocorrido muito especifico, que só pode ser resgatado com os recursos oferecidos pela memória, foi em plena copa do mundo de 2014, mais conhecida como a copa do 7x1 que eu perdi a oportunidade de ficar calado.







 Antes que fique qualquer dúvida, não, não foi no jogo do 7x1 e claramente não lembro contra quem nossa seleção jogou naquele dia. Sequer me recordo se era um jogo da seleção brasileira, agora com essas informações que tiram a pouca credibilidade que resta no meu texto, me recordo que tinha dois times em campo, com um único objetivo em comum, fazer acontecer.

 Estávamos lá os três na mesma sala, já bastante alcoolizados, afinal a situação pedia isso, quando fui surpreendido por uma pergunta muito mais que sincera da mãe do meu amigo, minha anfitriã naquela data:

"Marcel você não parece muito interessado no resultado desse jogo, você está torcendo para o Brasil nessa copa né?"

 Antes mesmo da resposta o terceiro elemento presente na sala já esboçava sentimentos de reprovação, como se pudesse ler a minha mente, não que fosse necessário, meu sorriso pré-resposta me denunciava, respondi mesmo assim:

- Na verdade não tenho interesse em futebol no geral, acho meio bosta sabe?

- Mas para o Brasil você torce né Marcel? Tem que torcer pra nossa seleção poxa vida, temos que apoiar eles de alguma forma.

- Não torço não, na verdade não estou ligando muito para os resultados da copa.

 Minha resposta, mesmo que simples, conseguiu atrair a atenção da mãe de meu amigo de forma não esperada, com os olhos dessa vez vidrados em mim, ela questionou novamente:

- Mas Marcel como assim você não torce para a nossa própria seleção em época de copa, cade seu espirito esportivo, um evento desses menino, temos que torcer, para você a copa não significa nada?

 E foi nesse ponto onde perdi a oportunidade de ficar calado; Não é porque você sabe alguma coisa, ou acredita em outras coisas, que você precisa falar sobre o tempo todo, ainda mais quando você é o convidado na casa de alguém e quer tomar o próximo copo de cerveja em paz. Mesmo sabendo disso respondi com a maior tranquilidade do mundo:

- Olha sinceramente, na minha visão a copa do mundo é semelhante a cocô de cachorro.

 O silêncio que se fez ali foi intenso, breve, porém intenso, quase pude ouvir a desaprovação se construir as pressas dentro da cabeça daquela mulher.

 Com os olhos arregalados, tom levemente alterado, ela questionou o amigo do filho dela novamente:

- Marcel você acabou de comparar a copa do mundo com cocô de cachorro? Foi isso mesmo que eu ouvi?

 Nem todo o arrependimento dentro do meu coração, nem a clara mensagem não verbal do meu amigo de "para de falar Marcel, pelo amor" me fizeram parar.

 Era como um trem desgovernado em uma descida, só uma colisão poderia parar aquilo, como palavras não colidem umas nas outras, dei continuidade a minhas afirmações absurdas:

- Sim foi o que eu disse, dou a mesma importância para ambos.

- Eu não acredito que ouvi isso - ela riu como quem acabara de ouvir o maior absurdo já dito - filho seus amigos são todos uns loucos.

- Verdade mãe - disse meu amigo, claramente desapontado comigo.

- Sorte sua que eu gosto de você Marcel, se não te colocava pra fora. - concluiu ela, na maior sinceridade do mundo.

 Agradeci a compreensão, enchi todos os copos da mesa, e segui vendo aquele jogo com um pensamento martelando meu subconsciente:

"Você calado é um poeta Marcel"

 E com esse pensamento encerro essa postagem, que mais é uma tentativa de retomada a escrita, sem compromissos, sem neuras, só escrever mesmo. enfim, nunca perca a oportunidade de ficar calado, a não ser que você esteja disposto a lidar com as consequências de suas decisões.

Ass: M.O.P.
Revisão: Thebis

ps: Eu ainda sou bem vindo nessa casa, não sei como.
pps: Queria saber como foi o papo naquela sala depois que fui embora.


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